Por Jayme Fogagnolo Cobra
Com esse artigo, começo uma série de análises sobre os principais stakeholders do mercado de saúde no Brasil. Hoje, meu foco fica com os planos de saúde e o SUS.
O Brasil criou o Sistema Único de Saúde em 1988. Até então a população ou pagava pelos serviços médicos, ou quem era trabalhador contratado pelo regime de CLT tinha acesso ao chamado INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), que funcionava junto com o INPS, ou era atendido por instituições de caridade como as Santas Casa de Misericórdia, onde meu avô começou a praticar a medicina.
Vale ressaltar que, assim como a previdência, as questões sobre o sistema público de saúde são complicadas em todos os países, inclusive os mais ricos, haja vista as idas e vindas entre democratas e republicanos sobre o “Obamacare” (a Lei de Proteção e Cuidado ao Paciente) nos EUA.
Voltando ao Brasil, o direito à saúde universal e gratuita foi adquirido com a constituição e rapidamente ganhou dimensões gigantescas. Segundo dados do próprio governo, “em 2018, o SUS realizou quase 4 bilhões de procedimentos ambulatoriais, 11,6 milhões de internações, 1,4 bilhão de consultas e atendimentos e 900 milhões de exames”. Cerca de 160 milhões de brasileiros dependem exclusivamente do SUS. O orçamento da União, em 2018, previa um gasto de R$ 131,5 bilhões.
Nos últimos 20 anos, o custo para tratamento dos doentes reumáticos, principalmente aqueles que estão em tratamento por doenças imunoinflamatórias, tem sofrido elevações vertiginosas, principalmente pela incorporação de novas tecnologias como por exemplo os fármacos chamados de modificadores de doença imunobiológicos (DMARDib). Hoje, os fármacos imunobiológicos para o tratamento das doenças imunoinflamatórias representam em torno de 25% do custo com todos os fármacos de alta complexidade no SUS. O custo com cada doente em tratamento com esses fármacos pode variar de R$ 15.000,00 a mais de R$ 50.000,00/ano de tratamento.
Do ponto de vista de negócios, são números para empresa nenhuma botar defeito. É justamente essa dimensão gigantesca o principal desafio do nosso sistema público de saúde. A gestão precisa ser extremamente precisa, pois a menor das decisões ainda representa um grande impacto. Quando a gestão não é bem-feita, chegamos a um cenário de gasto alto com serviços de qualidade ruim. É como encher uma piscina com o ralo aberto.
Do outro lado, estão os planos de saúde, regulados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). De acordo com os números mais recentes, 47 milhões de brasileiros têm acesso a esses serviços, porém com a crise financeira e o aumento do número de desempregados, cerca de 3 milhões de pessoas perderam o acesso aos planos desde 2015. Num cenário que os planos empresariais correspondem a 67% do total.
As empresas reclamam do aumento dos custos com planos de saúde, a previsão para esse ano é de um aumento de 17%, o que faz com que atualmente seja um dos benefícios mais caros oferecidos para os colaboradores. Do outro lado, médicos e hospitais reclamam que são obrigados a se encaixar nas tabelas de preços das operadoras que preveem descontos altos. E quem fica perdido nesse território são os pacientes.
Mais uma vez a administração desse ecossistema é de grande complexidade. Algumas empresas têm adotado o modelo de coparticipação com seus empregados, visando o estímulo ao uso racional do plano de saúde. As companhias de plano de saúde e hospitais, por sua vez, têm renegociado os modelos de remuneração ou têm buscado a verticalização da atividade fim para ter maior controle de custos. No futuro, abordarei esses assuntos com maior profundidade novamente.
No próximo artigo, analisarei o papel dos hospitais e os médicos.
Jayme Fogagnolo Cobra, Médico na Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra.
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