Por Jayme Fogagnolo Cobra
A pandemia do novo coronavírus, COVID-19, não é a primeira que a humanidade enfrenta, mas é talvez a primeira dessa magnitude que a nossa geração e a geração de nossos pais testemunha. Acontecimentos como esse mostram que temos uma condição de vulnerabilidade como espécie, como civilização e como sociedade. Esse cenário nos ensina que precisamos trabalhar e nos preparar para episódios assim, porque cedo ou tarde vai acontecer novamente, mas com todos os avanços tecnológicos no mundo e na medicina, acredito que é possível lidar com situações críticas melhor estruturados.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a pandemia do Coronavírus já chegou em 202 países, com milhares de infectados no mundo todo e com o número de mortes em crescimento. Os números realmente assustam, mas no meio desse caos um país tem se destacado por enfrentar essa doença com mais serenidade: a Alemanha.
Alemanha
De acordo com dados mais recentes, a Alemanha começa a dar sinais de que está conseguindo estabilizar a curva de crescimento de casos da COVID-19. A experiência alemã tem chamado a atenção principalmente pela baixa taxa de letalidade quando comparada a outros países europeus.
Camille e eu moramos na Alemanha por três anos, enquanto ela fazia seu pós-doutorado na FAU e, nesses últimos dias, temos conversado constantemente com nossos amigos médicos que vivem lá.
Respeito ao isolamento
O cenário é diferente mesmo. Os alemães estão respeitando muito o isolamento, quase não se vê ninguém nas ruas e, quando veem, são profissionais de saúde que estão indo para o trabalho. Eles estão conseguindo tratar todo mundo e atuando com solidariedade, recebendo inclusive pacientes da Itália e da França.
Além do isolamento e do maior número de leitos de UTI com respiradores, alguns dados chamam a atenção na Alemanha. A média de idade dos infectados é de 47 anos, muito mais jovens que média italiana. Como vemos diariamente na imprensa, os idosos estão mais propensos a desenvolver as formas mais graves da doença, mas esse dado dos pacientes traz mais uma variável para a mesa: a Alemanha tem seguido a diretriz da OMS de testar o maior número possível de pessoas. Ao fazer isso, a Alemanha conseguiu perceber o surto mais cedo e impedir que os jovens e pacientes assintomáticos propagassem ainda mais a doença.
Analisando outros pontos
Indo além da questão da pandemia, acho que vale analisar outros pontos. Todas as cidades alemãs, em geral, contam com bons equipamentos hospitalares.
A cada cinco ou dez anos, os alemães costumam renovar seus equipamentos, assim como reformam constantemente as instalações dos hospitais. Essa é uma filosofia da sociedade, eles sempre conseguem manter tudo muito organizado, funcionando, antevendo alguma necessidade. E isso é para o país como um todo, em todas as áreas. Quando morávamos lá, recebemos um comunicado dizendo que a rua de nossa casa iria ficar fechada por sete dias para uma reforma. Em uma semana, eles reconstruíram a rua: asfalto, cabeamento, calçadas. Então, eu me perguntei: a rua está nova, por que estão fazendo isso? Pesquisei e descobri que essa é uma rotina deles. A cada cinco anos eles refazem a rua, a estrutura toda, encanamento de gás, de água, tudo de forma preventiva. E essa é a filosofia para tudo, inclusive para o setor saúde, para os hospitais.
Brasil
Mas nossa situação aqui no Brasil não é tão crítica quanto se possa pensar. O Brasil é o 3º país do mundo em relação ao número de leitos de UTI a 100 mil habitantes. Fica trás apenas de EUA e Alemanha. Certamente não temos a distribuição regional que gostaríamos, mas temos um sistema de saúde que está bem dimensionado para as necessidades normais.
O problema é que uma pandemia como essa é algo fora do normal. O vírus é muito transmissível, o que faz com que muita gente fique doente ao mesmo tempo. Para essas situações, que se assemelham a um período de guerra, são criados os hospitais de campanha. Medida que vem sendo tomada por algumas cidades no Brasil. Vimos isso também na China com a construção de dois hospitais feita muito rapidamente.
Tenho certeza que nós vamos tirar importantes lições dessa pandemia. A sociedade precisará rever uma série de coisas: o crescimento desordenado das cidades, a falta de desenvolvimento regional, a falta de manutenção e planejamento e até mesmo os procedimentos para lidar com as externalidades. É uma discussão muito ampla e que não pode ser esquecida quando essa crise passar.
Jayme Fogagnolo Cobra, Médico na Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra.
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