Por Jayme Fogagnolo Cobra
Nesse momento de pandemia do novo Coronavírus, muitas notícias vão surgindo e nem sempre verdadeiras. E em alguns casos são os remédios que entram na vitrine: primeiro foi o ibuprofeno e agora a cloroquina. Seguem algumas informações que acho interessante compartilhar, já que este é um fármaco bastante habitual para a reumatologia e que vem sendo estudado e indicado para as nossas doenças desde que meu avô começou a fazer reumatologia em 1944.
A Cloroquina vem sendo usada com sucesso na China e Itália, reproduzindo o que os chineses fizeram, para tratamento de casos graves do COVID-19. Na verdade, já se sabe sobre os efeitos antivirais e dos antimaláricos há mais de 20 anos. No surto de SARS (2003), também foi muito utilizada com bons resultados.
Os mecanismos de ação são vários, mas os principais são:
- Alcaliniza os fagolisossomas, esse vírus gosta de fazer replicação viral em pH ácido;
- Bloqueia o fator de transcrição NF-kappa-B, que estimula a transcrição das proteínas anti-apoptóticas, ou seja, a cloroquina promove a apoptose de células contaminadas com endoparasitas.
Os vírus, para se protegerem, apresentam vários mecanismos para retardarem a apoptose das células infectadas para poder potencializar sua replicação, daí a Cloroquina vai lá e reduz a ação dessas proteínas que retardam a apoptose. Desta forma, o fármaco consegue reduzir a quantidade de vírus replicados e consequentemente a carga viral, o que leva à redução da gravidade e do tempo de infecção.
Uma outra informação a saber: o COVID-19 tem causado doença mais grave em pessoas com câncer em tratamento. A culpa disso tem ficado apenas sobre o fato desses doentes estarem em quimioterapia e, portanto, em imunossupressão, daí muitos fazem a inferência de que os nossos doentes reumatológicos em tratamento que estão “teoricamente imunossuprimidos” também seriam do grupo de risco, o que de fato, não são.
Na verdade, há outros fatores envolvidos. O que contribui com que pacientes em tratamento de neoplasias sejam de risco é o fato de clones de células neoplásicas apresentarem enorme quantidade de substâncias anti-apoptóticas, o que gera um tropismo do vírus por essas células, local perfeito para se replicarem sem ser “incomodados por uma apoptose” ou por uma resposta imune violenta e, com isso, atingem uma carga viral alta que leva a doença mais grave.
Seguem algumas sugestões de leitura, para esse período que estamos todos em isolamento social, para quem se interessar pelo tema.
1- Update on the prevalence and control of novel coronavirus-induced pneumonia as of 24:00 on February 21. http://www.nhc.gov.cn/xcs/yqtb/202002/543cc50897 8a48d2b9322bdc83daa6fd.shtml (accessed March 17, 2020). (in Chinese)
2- Huang, C. L. et al. The Lancet https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30183-5 (2020)
3- Zhou P, Yang XL, Wang XG, Hu B, Zhang L, Zhang W, Si HR, Zhu Y, Li B, Huang CL, Chen HD, Chen J, Luo Y, Guo H, Jiang RD, Liu MQ, Chen Y, Shen XR, Wang X, Zheng XS, Zhao K, Chen QJ, Deng F, Liu LL, Yan B, Zhan FX, Wang YY, Xiao GF, Shi ZL. A pneumonia outbreak associated with a new coronavirus of probable bat origin. Nature. 2020 Mar;579(7798):270-273. doi: 10.1038/s41586-020-2012-7
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6- Wang M, Cao R, Zhang L, Yang X, Liu J, Xu M, Shi Z, Hu Z, Zhong W, Xiao G. Remdesivir and chloroquine effectively inhibit the recently emerged novel coronavirus (2019-nCoV) in vitro. Cell Res. 2020 Mar;30(3):269-271. doi:10.1038/s41422-020-0282-0
7- Multicenter collaboration group of Department of Science and Technology of Guangdong Province and Health Commission of Guangdong Province for chloroquine in the treatment of novel coronavirus pneumonia. [Expert consensus on chloroquine phosphate for the treatment of novel coronavirus pneumonia]. Zhonghua Jie He He Hu Xi Za Zhi. 2020 Mar 12;43(3):185-188. doi:10.3760/cma.j.issn.1001-0939.2020.03.009
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Jayme Fogagnolo Cobra, Médico na Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra.
Dra. Camille P. Figueiredo, médica reumatologista, pesquisadora dedicada aos estudos sobre metabolismo ósseo e HR-pQCT.
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