Por Jayme Fogagnolo Cobra
A principal razão para a ênfase nas medidas de isolamento social durante a pandemia é para evitar o colapso dos sistemas de saúde dos países. De modo geral, os sistemas são planejados para atenderem um determinado número de pacientes ao longo de um período estipulado. Ocorre que em momentos de crise como o que estamos vivendo, muita gente fica doente ao mesmo tempo sobrecarregando o sistema até o colapso.
Não basta levantar e equipar hospitais de campanha. É preciso pessoas para operá-los. Não falo só sobre médicos, mas principalmente os profissionais enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, farmacêuticos, entre outros. Saúde não se faz sozinho, na maior parte dos casos, como em UTIs por exemplo, é necessário trabalhar com equipes multidisciplinares. O Brasil ainda tem um problema adicional que é a diferença regional diante de nossas dimensões continentais. Muitos de vocês devem ter visto a dificuldade para contratar profissionais de saúde para os hospitais de campanha em alguns estados.
É preciso dizer que outros países também enfrentam esse mesmo problema. Segundo Relatório lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o mundo conta com 28 milhões de profissionais de enfermagem e ainda assim tem um déficit de quase 6 milhões de enfermeiros. Aliás, saúde e bem-estar é o terceiro Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e um de seus desdobramentos é: “aumentar substancialmente o financiamento da saúde e o recrutamento, desenvolvimento e formação, e conservação do pessoal de saúde nos países em desenvolvimento”.
Trazendo dados do Brasil, a pesquisa “Demografia Médica no Brasil 2018”, mostra que o país tem mais de 450 mil médicos, o que significa 2,18 médicos por mil habitantes. Entretanto, quando falamos da reumatologia mais especificamente, essa mesma pesquisa mostra que há no Brasil apenas 1,15 especialista por 100 mil habitantes, sendo que 54,8% estão concentrados na região sudeste, como vocês podem ver no mapa abaixo.
Na reumatologia, o diagnóstico precoce faz muita diferença no resultado clínico e nos custos envolvidos com o tratamento. Quando olhamos para esses números, percebemos que para muitos brasileiros essa opção não existe, pois essas pessoas simplesmente não têm acesso ao reumatologista.
Nós somos referência na área há mais de 7 décadas e queremos ajudar a diminuir o problema, dar a nossa contribuição para a comunidade médica e para a sociedade. Estamos trabalhando em materiais para levar informações das doenças reumáticas para médicos clínicos gerais, médicos da família e de outras especialidades em todo o Brasil. Assim ao examinar um paciente, médicos generalistas podem identificar os primeiros sintomas de uma artrite reumatoide por exemplo. Em breve, escreverei mais sobre essas novidades.
Além disso, eu acredito que o acesso ao reumatologista e a outros especialistas tende a ser ampliado por meio das plataformas de telemedicina. Nessa pandemia, elas ficaram mais populares, pois oferecem a possibilidade da consulta médica sem que o paciente precise se deslocar. Mas a verdade é que essas ferramentas também podem auxiliar a discussão de casos de médicos em todo o país, permitindo que os profissionais de saúde possam consultar uma segunda opinião ou um especialista que não está presente em sua região.
Jayme Fogagnolo Cobra, Médico na Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra.
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